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Não há realidade que se perpetue sem mudanças

Por Fabio Basilone – SOM.US

As mudanças no mercado de seguros e resseguros levam modernização a todos os seus agentes, desde os hábitos dos clientes, procedimentos de (res)seguradores e até atuação as associações de classe

Breve Histórico

Pode ser que a frase a seguir soe como novidade para algumas pessoas: o mercado segurador e o mercado financeiro são primo-irmãos. Sim, é verdade, bancos e seguradoras possuem uma enorme relaçãoque vai muito além da utilização mútua para distribuir produtos. Na verdade, a matéria prima (ou os ascendentes) de ambos é rigorosamente a mesma, ou seja, o capital.

Essa afirmativa lança luz sobre as variações de ofertas desses mercados de forma clara e definitiva.Podemos até mesmo propor um axioma: dado um volume de capital, quanto menor for a remuneração puramente financeira aplicada sobre ele maior será a oferta de capacidade securitária e consequentemente, menores os preços dos seguros. De maneira perfeitamente inversa, quanto maior retorno houver no mercado financeiro, menor será a oferta de capacidade securitária, ajudando na elevação dos preços.

Esse ciclo vivia em relativa harmonia, como senoides deslocadas de determinada fase que de alguma maneira agiam sem reduzir severamente as amplitudes de todos os seus componentes. Aparentemente, isso foi verdade até 2008 e, a partir daí, tudo indica que o capital e seus herdeiros esbarraram nas famosas mudanças disruptivas que tantas outras indústrias já experimentaram.

As consequências

O que tem sido visto desde então tem levado o mercado segurador a importantes redefinições de propósitos por pelo menos dois fatores que se conjugam:

  1. O primeiro é a situação macroeconômica mundial que mantém taxas de juros sobre extrema pressão para baixo – exceção para alguns países – fazendo com que a abundância de capacidade securitária crie novos limiares de preços;
  2. A segunda é a digitalização como forma de integrar tarefas completamente distintas e viabilizar novas cadeias de valores nunca antes imaginadas.

Vamos esquecer por um momento o mercado financeiro por simplificação e por necessidade de foco no segmento de seguros. Se concordarmos que na origem dos propósitos há alterações importantes, temos que concordar que os desdobramentos na indústria securitária tendem a mudar verdades históricas, criar novas possibilidades e mesmo transformar hábitos. Em outras palavras, pouca coisa ficará no mesmo lugar a não ser, como valor imutável, a máxima boa fé como pedra fundamental dos contratos de seguros.

Os ajustes

Variações de disponibilidade de capital e suas consequentes mudanças nas práticas de subscrição são especialmente verdadeiras para os grandes compradores de seguros, onde seu custo tem relação direta com o mercado ressegurador facultativo.

Sob a perspectiva desse grande comprador, o equilíbrio desejável entre gastos com a compra de seguros e o investimento em gestão de riscos ganha um novo paradigma. A redução pura e simples dos preços não reduz o tamanho do risco mas tão somente a sua percepção. As equipes de segurança e de seguros passam a ter uma nova tarefa no sentido de sensibilizar a alta administração sobre as vantagens de investimentos no gerenciamento de riscos.

O corretor de seguros também não fica imune às consequências desse cenário. É seu dever estudar e reavaliar a matriz de riscos até então existentes para seus clientes e propor novas transferências para o mercado segurador, muitas vezes utilizando oportunidades comerciais que surgem pelo custo de oportunidade. Incorporar coberturas a um mesmo preço de renovação sempre trazem benefícios adicionais no médio e longo prazos.

Os tomadores de risco e gestores do capital atuam como fiel da balança, apontando mais ou menos o lápis da subscrição de acordo com o histórico do segurado, seus investimentos em segurança e sua capacidade de influenciar os resseguradores nos argumentos de colocação. Franquias, limites agregados e coberturas adicionais e inovadoras passam a ganhar foco em todos os lugares. Que o diga a cobertura de riscos cibernéticos…

O papel das associações

Por definição e de forma simplificada, as associações são a união de vários entes com o mesmo objetivo não econômico. Em ambientes de mudanças, é papel dessas entidades avaliar as condições de contorno que definem seu mercado específico, estudando e propondo adequações nas regras, estudando cenários e agrupando demandas.

A Abecor Re, a associação dos corretores de resseguros, vem atuando desde o começo de 2017 exatamente nessas direções. As mudanças vão desde uma nova agenda de temas técnicos, a auto regulamentação do setor até a busca de aproximação com as demais associações que compõem o mercado nacional e internacional de seguros e resseguros.

Em resumo, não há realidade que se perpetue sem mudanças e não há mudança que não se justifique pela necessidade de perpetuação.

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