Endereço
Av. Rio Branco, 147 – Centro, Rio de Janeiro – RJ

ANSP Café discute Perspectivas para os mercados de Seguro e Resseguro em 2025

Profissionais se reuniram para abordar as projeções econômicas e técnicas para os mercados de seguro e resseguro em 2025

Na última terça-feira (19), a Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP realizou uma live para falar sobre o tema “Perspectivas para os mercados de Seguro e Resseguro em 2025”, em mais uma edição do ANSP Café. Transmitido pelo canal da Academia, no Youtube, o evento teve a participação do Diretor de Cátedras da ANSP, Ac. Felipe Name, na abertura e contextualização do tema, e da Ac. Magali Zeller, na moderação das palestras. Também contou com as presenças do Coordenador da Cátedra de Ciências Econômicas do Seguro, Ac. Francisco Galiza, do Coordenador da Cátedra de Resseguro, Ac. Eduardo Toledo, do Economista Ac. Marcio Coriolano e do Engenheiro e executivo do setor de Resseguro Ac. Rodrigo Botti.

Abrindo os painéis, Francisco Galiza trouxe algumas reflexões sobre como ele enxerga a economia brasileira atualmente e, consequentemente, o mercado de seguros. Segundo o executivo, o Brasil deve fechar o ano com um crescimento um pouco acima de 3%, uma inflação que deve superar levemente a meta (o limite da meta é 4,5% ao ano), ficando em torno de 4,6 ou 4,7%. “Em relação ao déficit público e contenção de gastos, eu particularmente acho que há uma boa margem de manobra, mesmo que haja um ajuste de despesa, porque o crescimento está muito bom, está em 3%. Então, se cair um pouco o termo de crescimento, mesmo assim é confortável”, assegurou.

A visão do economista é de que mesmo havendo esse ajuste, o cenário é confortável. Para 2025, até contemplando esse ajuste, a previsão atual é de um crescimento de 2%, com uma inflação um pouco menor, de 4%, e um desemprego 6% a 7%. Ou seja, os números da economia brasileira nesse momento são favoráveis.

Quando se avalia um setor, seja ele de calçados ou siderúrgico, duas variáveis básicas, receita e rentabilidade, devem ser consideradas. De acordo com o consultor de seguros, o mercado deve fechar o ano de 2024 com um crescimento um pouco acima de 10%. “É sempre bom lembrar que esse crescimento é médio. Pode haver variação tanto para o ramo de seguro como de empresa. Nesse ano, o destaque é o ramo de seguros elementares”, explicou.

A rentabilidade histórica do mercado de seguros – lucro líquido e patrimônio líquido -, tem sido em cima de 25%. E esse número tem se sucedido. “Então, com 10% nominal do crescimento, com uma inflação de 4% ou 4,5%, vamos ter mais uma vez um crescimento real do mercado de seguros. Se tudo correr bem, se não acontecer nenhum imprevisto, a gente pode dizer que essa é uma previsão razoável paro ano que vem, entre 10% e 11% de crescimento nominal, rentabilidade de 25%”, reforçou.

Na opinião do economista, há três grandes riscos que devem ser considerados como referência. São eles, ambiental, médico/pandêmico e político. Ele terminou sua exposição falando do open insurance, a nova lei do seguro e tecnologia, variáveis para as quais ele recomenda uma maior atenção no próximo ano. “Eu acho que 2024 foi um ano positivo para o mercado de seguros. A indústria teve mais uma vez o crescimento real de faturamento. As empresas conseguiam uma taxa de rentabilidade favorável e mesmo após as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul o segmento reagiu muito bem, absorveu e não teve sua rentabilidade alterada significativamente”, analisou. Galiza se diz otimista em relação ao ano de 2025 e torce para que os riscos mencionados não aconteçam.

Pontos fortes para travessia de 2025, desafios e incertezas e arriscando tendências foram os tópicos abordados por Márcio Coriolano em sua apresentação. Como pontos fortes, o painelista destacou a projeção do crescimento do mercado de seguros para 2024 e a sinistralidade direta, que está abaixo de 56%. O nível de governança das seguradoras ampliou-se muito afastando o risco de qualquer aventura de apetites que possam comprometer suas trajetórias. A regulação da SUSEP, depois de muitas mudanças de governo, está estabilizada. Outro ponto importante de preparo atual é que o governo, que no caso dos seguros é Ministério da Fazenda, está muito mais próximo do setor segurador, chegando o secretário de políticas microeconômicas a dizer que há a necessidade de revolução na indústria de seguros como a que alcançou o sistema bancário há muitos anos. “E finalmente no caso dos pontos fortes para travessia para 2025, a confiança do capital estrangeiro parece a mesma no setor de seguros. Não tem ninguém saindo”, comentou.

O quadro fiscal continua difícil, com eventual pressão do quadro fiscal sobre inflação e sobre juros. O nível do câmbio está desfavorável à exportação e a importação. De modo geral, o próprio setor de seguros é dependente de insumos que muitas vezes são importados. Não somente o nível do campo como também a inflação pode colocar uma pressão sobre os consumos e custos do setor, principalmente nos seguros gerais. Além disso, a renda média de brasileiro está em patamar muito alto, o que impacta na demanda e pode também restringir a capacidade de pagamento dos seguros.

“O legislativo, a saúde suplementar estará em foco. A nova lei dos seguros vai demandar atenção de todos, seja para sua absorção, seja para manter o mercado unido. Tem ainda eventos que devem persistir em 2025 e o ambiente de resseguros terá um papel importante para o enfrentamento disso tudo”, sinalizou Coriolano ao comentar incertezas para a travessia para 2025.

O executivo finalizou seu painel abordando o tema arriscando tendências. Em relação as taxas de crescimento, os incrementos em 12 meses móveis, pós maio de 2024, podem ter algum efeito negativo para as taxas 2025. Em sua opinião, o mercado cresceu muito e talvez não consiga se sustentar. Sua preocupação é como manter ou mesmo ampliar o mercado de seguros. “A persistência das autoridades reguladoras no apoio ao setor, principalmente o Ministério da Fazenda, vai ter um papel muito relevante nessa travessia para 2025. Caso a demanda, ou seja, a capacidade de pagamento das pessoas seja comprometida pelo quadro geral econômico e político do país, as seguradoras podem compensar esse efeito com produtos e serviços que possam caber melhor no bolso dos que já estão e nos que querem entrar nos seguros”, concluiu.

Rodrigo Botti explanou sobre o tema resseguros e as perspectivas para o setor em 2025. Começando pelo resseguro mundial, sua visão é a de que hoje o mercado global está com tom caracterizado por um otimismo cauteloso. Em 2024 tivemos grandes furacões como Milton e Elen, com impacto, uma perda segurada estimada entre U$ 30 e U$50 bilhões de dólares. Isso deverá causar algum impacto no resultado das grandes resseguradoras, reduzindo o retorno anual, mas não impactando em prejuízo, no capital das grandes resseguradoras. Em termos de taxa, o mercado mundial está falando agora do aumento em 2024 das taxas de resseguro patrimonial, algo em torno de 10 e 15%, e ajuste nas taxas de responsabilidade civil e outros da linha de negócio de cauda longa menor. Algo entre 0% e 5%.

“Interessante ver também a leitura da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Por um lado, se espera políticas mais inflacionárias, o que seria negativo para o mercado de resseguro, mas pelo outro, isso pode ser contrabalanceado por taxas de juros americanas mais altas por mais tempo, o que é positivo. Então, um efeito contrabalanceia o outro”, ponderou.

As ações das seguradoras e resseguradoras americanas subiram com o resultado das eleições. No mercado mundial em termos de oportunidades ainda se fala muito de resseguro paramétrico e do segmento de cyber. Além disso, o mercado de Insurance Linked Security (ILS) continua crescendo bastante, em ritmo mais acelerado do que o crescimento do resseguro tradicional. Em termos de resseguro, o grande efeito do ano foram sem dúvida os trágicos acontecimentos no Rio Grande do Sul, que já devem estar contabilizados no nos balanços das resseguradoras.

Tem ainda os efeitos de secas no meio do país e também as queimadas em São Paulo que ainda podem pesar um pouco nos balanços. Também na linha de patrimonial, historicamente existe uma sazonalidade anual, uma concentração um pouco maior de sinistros no último trimestre, mas esse efeito tem sido cada vez menor nos últimos anos. “Quanto ao ambiente regulatório eu estou bastante otimista. Já no tema Brasil eu mencionaria a reforma tributária e o Plano Nacional de Resseguros (PNR). E acho que em 2025 vão começar a ver no Brasil os efeitos positivos das SSPEs e das letras de risco de seguro, que são essa ideia do mercado de capitais apoiar as seguradoras brasileiras, dando a elas capacidade. Eu sou entusiasta do tema e tenho visto boas iniciativas acontecendo”, anunciou.

Caminhando para o final de sua participação, Botti também trouxe um pouco de contexto.
Falou sobre o histórico do mercado ressegurador, mostrou dados sobre o fluxo de prêmio de resseguro dos últimos cinco anos do mercado e compartilhou suas perspectivas para o futuro. Falou ainda sobre tecnologia na modelagem e avaliação de risco na subscrição, eficiência operacional e engajamento de clientes. “Temos um futuro muito promissor para quem se adaptar, para quem entender e investir nessas transformações”, acrescentou.

Eduardo Toledo entende que temos alguns pontos positivos e outros mais desafiadores. “Na nossa vida o desafio está presente. O importante é perseverarmos e sermos resilientes para superarmos. E no mercado de resseguros não é diferente”, salientou.

Em seu painel, o profissional pontuou alguns dos assuntos já abordados pelos demais palestrantes, como, por exemplo, risco cibernético, tecnologia, regulação/lei de seguros, LRS e mudanças climáticas. Ele destacou o fato de o Brasil hoje fazer parte do seleto grupo de países com riscos catastróficos, que até então era algo que passava despercebido para nós, principalmente nos contratos dos resseguradores que davam capacidade para as seguradoras e todos os países da América Latina. Segundo ele, houve o impacto sim e as contas da situação do Rio Grande do Sul ainda estão sendo trabalhadas. Não se liquidaram todos os sinistros que ainda estão em andamento e que ainda vão ser resolvidos ao longo dos próximos meses e ano. Mas ainda teremos um número mais exato à frente de quanto essa perda representou para o mercado global.

“Falamos muito da economia, das tendências e vemos que existe um favoritismo para o Brasil na atual situação global. “Essas tendências todas que a gente vem falando indicam realmente que o setor terá que equilibrar dentro de inovação tecnológica, gestão de risco de países como o nosso, emergentes, nessas questões de riscos catastróficos. E que possamos manter uma relevância para 2025 muito positiva”, conclamou.

Essa edição do ANSP Café é uma realização da comissão de resseguro da ANSP. Teve a coordenação do Ac. Francisco Galiza, coordenador da Cátedra de Ciências Econômicas do Seguro e do Ac. Eduardo Toledo, coordenador da Cátedra de Resseguro. Contou com o apoio da o apoio da Associação Internacional de Direito do Seguro (AIDA Brasil) e da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

Assista a live completa no canal da ANSP: https://www.youtube.com/watch?v=2kxwAShVRJg

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *